Casamento: Perdoando e Tolerando

sábado, 29 de junho de 2013


 Colossenses 3:12-19

Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. 13 Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; 14 acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. 15 Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. 16 Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. 17 E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. 18 Esposas, sede submissas ao próprio marido, como convém no Senhor. 19 Maridos, amai vossa esposa e não a trateis com amargura.

Você talvez se lembre que minha esposa, Noël, disse, "Nunca é demais repetir que o casamento é um modelo de Cristo e da igreja" (veja Efésios 5:31-32). Eu disse que concordava com ela por três razões. Vou mencionar duas. A primeira é porque afirmar isso tira o casamento da cena de um seriado de comédia e o eleva para o céu claro e radiante da glória de Deus onde deveria estar. E em segundo lugar, dizer que o casamento é um modelo de Cristo e da igreja coloca-o firmemente na base da graça, já que é desta maneira que Cristo tomou a igreja para ser sua noiva, somente pela graça. E é assim que ele mantém seu relacionamento com a igreja — somente pela graça.

Casamento: A Obra e a Vitrine de Deus

As primeiras duas mensagens foram feitas para apoiar essa primeira razão. Tentei mostrar que o casamento é a obra de Deus e a vitrine de Deus. Isso significa que sua glória é dele, por ele e para ele. O propósito do casamento humano é temporário. Mas ele aponta para algo eterno, isto é, Cristo e a igreja. E quando esta era se acabar, ele vai se dissolver na realidade superior para a qual ele aponta.

Jesus disse em Mateus 22:30: "Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu." É por isso que meu pai, Bill Piper, não vai ser um bígamo na ressurreição. Tanto minha mãe quanto minha madrasta morreram. Meu pai esteve casado durante trinta e seis anos com minha mãe e, após sua morte, esteve casado vinte e cinco anos com minha madrasta. Porém, na ressurreição, a sombra dá lugar à realidade. O casamento aponta para a glória de Cristo e da igreja. Mas na ressurreição, essa indicação some junto à perfeição dessa glória.

Casamento: Firmemente Baseado na Graça

Então o assunto semana passada foi que o casamento é baseado na graça, a experiência vertical de graça vinda de Cristo através de sua morte na cruz, e então essa mesma graça inclinada horizontalmente, do marido para a esposa e da esposa para o marido. Nós simplesmente ressaltamos essa estrutura comum do casamento cristão (e do casamento onde somente um dos parceiros é cristão) de Colossenses 2:13-14 e 3:13. Colossenses 2:13b-14 nos fala como Deus proveu uma base para o perdão de nossos pecados: "...perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz". A escrita de dívida que se acumula contra nós por causa de nosso pecado, Deus anulou quando a pregou na cruz — e claro que não são pregos e madeira que removem o pecado, mas sim as mãos e os pés perfurados do Filho de Deus que removem o pecado (veja Isaías 53:5-6).

Graça Inclinada para Fora

Então, aos nos mostrar a base do perdão de Deus na cruz, Paulo diz em Colossenses 3:13b: "Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós". Em outras palavras, tome a graça, o perdão e a justificação que você recebeu verticalmente através da morte de Cristo e incline-a horizontalmente para os outros. Especificamente, maridos para esposas e esposas para maridos. Eu fiz a seguinte pergunta perto do final: Porque a ênfase em perdoar e suportar ao invés, digamos, da ênfase no romance e no desfrutar de um ao outro? Eu dei três respostas:


  1. Porque haverá conflito baseado no pecado, precisamos perdoar o que é pecado e tolerar o que é estranho, sendo que às vezes vocês nem irão concordar em qual é qual;
  2. Porque o trabalho duro e custoso de perdoar e tolerar é o que torna possível o florescer dos afetos quando eles parecem ter morrido;
  3. Porque Deus é glorificado quando duas pessoas muito diferentes e muito imperfeitas moldam uma vida de fidelidade na fornalha da aflição ao confiarem em Cristo.

Separação Redentora e Além

Então hoje, quero tratar mais a fundo a tolerância e o perdão. Já de início, digamos que eu estou ciente, terrivelmente ciente, de que existem pecados que cônjuges cometem uns contra os outros que levam perdoar e tolerar ao limite de quase ajudar no pecado, e que podem necessitar de uma separação redentora — eu escolho as palavras com cuidado: uma separação redentora. Eu penso em coisas como agressão, adultério, abuso infantil, violência pelo alcoolismo, vício em apostas ou roubo ou mentiras que trazem a família à ruína. Meu alvo hoje não é falar a respeito dessas coisas, isso vai chegar mais tarde quando eu entrar no tópico de separação e divórcio e novo casamento. Hoje eu estou tentando mostrar para vocês um padrão bíblico de tolerância e perdão que pode evitar que você chegue ao ponto da separação, quem sabe até mesmo resgatar alguns de vocês do limite da separação — talvez até mesmo restaurar alguns casamentos que o mundo chama de "divorciados". E eu oro para que isso também plante a semente nas crianças e nos solteiros que um dia poderão se casar, para que vocês possam construir seus casamentos nessa rocha de graça.

O Fundamento: A Pessoa e a Obra de Cristo

Quando Paulo chega a Colossenses 3:12, ele já estabeleceu um fundamento sólido na pessoa e na obra de Cristo na cruz. Isso é o fundamento do casamento e de toda a vida. As principais batalhas na vida e no casamento são batalhas para acreditar nesta pessoa e nesta obra. Isso é, realmente acreditar nisso: confiar, abraçar, estimar, valorizar, depositar confiança, respirar e moldar sua vida nisso. Então, quando Paulo chega a Colossenses 3:12, ele nos exorta com palavras que transbordam de uma realidade que desperta emoções e que é construída em Cristo e na sua obra salvadora.

Eleitos

Primeiramente, existem três descrições de você, o crente, que ele usa para nos ajudar a receber essa exortação. "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados...." Ele está nos dizendo que tipo de coração e de atitude nós devemos ter — vestindo-os como roupa. Mas antes, ele nos chama de eleitos, santos, amados. Nós somos os eleitos de Deus. Antes da fundação do mundo, Deus nos escolheu em Cristo. Você pode ouvir o quão precioso isso é para Paulo pelas suas palavras em Romanos 8:33: "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?" A resposta é que absolutamente ninguém pode fazer uma acusação duradoura contra o eleito de Deus. Paulo quer que sintamos a maravilha de sermos eleitos ao sermos invencivelmente amados. Se você resiste à verdade da eleição, você resiste a ser amado.

Santos

Então ele nos chama de santos, isto é, separados por Deus. Ele nos escolhe para um propósito — para sermos seu povo santo. Para saírmos do mundo e não sermos mais "comuns" ou impuros. Efésios 1:4, "...assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos...". 1ª Pedro 2:9, "Vós, porém, sois raça eleita,... nação santa...". Isso é primeiramente uma posição e um destino antes de ser um padrão ou um comportamento. É por isso que ele está nos dizendo que tipo de comportamento devemos "vestir". Ele sabe que não estamos praticamente lá ainda. Ele está dizendo para nos tornarmos santos na vida porque nós somos santos em Cristo. Se vista de acordo com quem você é. Vista a santidade.

Amados

Então ele nos chama de amados. "Eleitos de Deus, santos e amados." Deus, o criador do universo, escolheu você, separou você para ele e ama você. Ele é contigo e não contra ti. "Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores." (Romanos 5:8). Isso é o começo de como maridos e esposas perdoam e toleram. Eles ficam admirados com esse fato. Maridos, se entreguem a ver e a saborear isso. Esposas, se entreguem a ver e a saborear isso. Vivam disso. Alegrem-se nisso. Obtenham sua esperança disso, que vocês são eleitos, separados e amados por Deus. Implorem ao Senhor para que isso se torne o seu respirar em suas vidas e em seus casamentos.

Condições Internas que Levam a Comportamentos Externos

Nessa base, agora, na base desta profunda e nova identidade centrada em Deus, é dito a vocês como se "revestir". Como um filho de Deus eleito, amado e santo se veste? Isso é, é dito a vocês que tipo de atitude e comportamento combinam e fluem de ser eleito, separado e amado por Deus através de Cristo.

Eu penso que existem três condições internas descritas que levam, por sua vez a três comportamentos externos. "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem."

De Profunda Compaixão a Bondade

Vamos separar em pares. Versículo 12: "Ternos afetos de misericórdia, de bondade." Literalmente: "entranhas de misericórdia e bondade." "Entranhas de misericórdia" é a condição interna, e "bondade" é o comportamento externo. Seja piedoso no seu mais íntimo ser, e então, desse bom solo brotará o fruto da bondade. Então maridos, criem suas raízes pela fé em Cristo através do evangelho até que você se torne uma pessoa mais piedosa. Esposas, criem suas raízes pela fé em Cristo através do evangelho até que você se torne uma pessoa mais piedosa. E então, a partir dessa suave misericórdia, tratem um ao outro com bondade. A batalha é contra a nossa própria pessoa interior que é impiedosa. Lute a batalha pela fé, através do evangelho, em oração. Seja surpreendido, quebrantado, edificado, contente e piedoso porque você é eleito, santo e amado.

De Humildade a Mansidão

O próximo par é "humildade, mansidão." Versículo 12: "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão . . . ." Literalmente: "modéstia, mansidão." Novamente, "modéstia" é a condição interna e "mansidão" é o comportamento externo. Pessoas com corações humildes, ao contrário de orgulhosos, vão agir mais mansamente em relação aos outros. A mansidão toma os outros acima de nós mesmos e nos leva a serví-los. Isso acontece quando o coração é modesto, ou humilde.

Então maridos, criem suas raízes pela fé em Cristo através do evangelho, até que vocês se tornem uma pessoa mais humilde e modesta. Esposas, criem suas raízes pela fé em Cristo através do evangelho, até que vocês se tornem uma pessoa mais humilde e modesta. E então, tratem um ao outro com mansidão que flui dessa humildade. A batalha é contra a nossa própria pessoa interior orgulhosa e egocêntrica. Lute a batalha pela fé, através do evangelho, em oração. Seja surpreendido, quebrantado, edificado e feito contente e piedoso porque você é eleito, santo e amado.

De Longanimidade a Paciência e Perdão

O próximo par não é um par. É uma condição interna seguida de tolerância e perdão. Versículo 12: "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade (paciência). Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem." Estou chamando então a "paciência" de condição interna, e a tolerância e perdão, de conduta ou comportamento externo.

A tradução literal de paciência é "longanimidade" (do grego makrothumian). Ou seja, se tornar o tipo de pessoa que não tem um pavio curto, mas um comprido. Um pavio bem comprido. Ser uma pessoa paciente, demorada a se irar, pronta a escutar, demorada para falar (Tiago 1:19) . Essas três condições internas que mencionei se conectam e se afetam mutuamente. "Entranhas de misericórdia" (um coração de compaixão) e "modéstia" (humildade) levam a ser "longânimo" (paciente). Se você é pronto a se irar ao invés de ser longânimo, sua raíz provavelmente tem falta de misericórdia e de modéstia. Em outras palavras, ser eleito, santo e amado não quebrantou seu coração e não o abalou em seu egocentrismo e orgulho.'

Então maridos, criem suas raízes pela fé em Cristo até que vocês se tornem mais piedosos e mais humildes e, dessa maneira, mais pacientes. Esposas, criem suas raízes pela fé em Cristo até que vocês se tornem mais piedosas e mais humildes e, dessa maneira, mais pacientes. E então, tratem-se mutuamente com . . . o quê? Os outros dois foram pares: corações compassivos levando à conduta de bondade; humildade levando à conduta de mansidão; e agora, paciência (ou longanimidade) levando a quê?

Duas coisas: Tolerar e Perdoar

Duas coisas, não uma coisa: Primeiro, "suportando-vos uns aos outros" e então, segundo, "perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro." Suportando e perdoando. O que isso significa e como isso aparece no casamento? Primeiramente, um comentário sobre as duas palavras. "Suportar" ou tolerar: A palavra é literalmente "aguentar", aguentando um ao outro. Jesus usou em Lucas 9:41: "Gente má e sem fé!... Até quando terei de aguentá-los?" Paulo usa novamente em 1ª Coríntios 4:12: "Quando somos perseguidos, aguentamos. Então, tornem-se uma pessoa longânima e aguentem um ao outro. Suportar. "(O amor) tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba." (1ª Coríntios 13:7-8).

A outra palavra é perdoar. Existem ao menos duas palavras para perdoar no Novo Testamento. A que foi usada aqui (do grego charizomenoi) significa doar livremente ou graciosamente. A ideia não é de um pagamento exigente. Mas tratar aos outros melhor do que merecem. Então nesse sentido, você perdoa quando erram com você, e, portanto, eles ficam em dívida com você, sendo que a justica absoluta diz que que você tem o direito de exigir algum sofrimento deles em pagamento ao que eles causaram a você, e você não somente não exige o pagamento, mas você "distribui livremente" o bem pelo mal. Esse é o significado dessa palavra (charizomai). Seu proceder é perdoar — você não devolve o mal com o mal, mas você abençoa (1 Coríntios 4:12; 1 Tessalonicenses 5:15; Mateus 5:44; Lucas 6:27).

Nossa Esperança Está no Evangelho

Agora, o que eu acho muito útil é que Paulo reconhece que tanto o perdoar quanto o suportar são cruciais para a vida em conjunto, tanto em igreja quanto no casamento. O perdão diz: eu não vou tratar você mal por causa de seus pecados contra mim ou seus hábitos irritantes. E tolerância reconhece (normalmente para si mesmo), esses pecados contra mim e esses hábitos irritantes realmente me incomodam! Se não houvesse nada na outra pessoa que realmente nos incomodasse, não houveria necessidade para dizer "suportando uns aos outros."

Quando você se casa com alguém você não sabe como ele será daqui a trinta anos. Nossos antepassados não escreveram seus votos de casamento com suas cabeças na areia. Seus olhos estavam bem abertos para a realidade, "para ter e manter desse dia em diante, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, para amar, honrar e cuidar, até que a morte nos separe, e em tudo isso eu prometo ser fiel." Você não sabe como essa pessoa vai ser no futuro: pode ser melhor do que você já sonhou, ou pior. Nossa esperança está baseada nisso: Nós somos eleitos, santos e amados. Deus é por nós, e todas as coisas irão cooperar para o bem daqueles que o amam.

A Pilha de Compostagem

E a respeito da pilha de compostagem? Imagine o seu casamento como um campo gramado. Você começa a andar por ele cheio de esperança e alegria. Você olha para o futuro e vê lindas flores e árvores e colinas onduladas. E essa beleza é o que vocês veêm um no outro. O seu relacionamento é o campo, as flores e as colinas. Mas em pouco tempo, você começa a pisar em estercos de vaca. Em algumas épocas do seu casamento eles parecem estar em todo lugar. Eles são especialmente predominantes ao cair a noite. São os pecados, defeitos, idiossincrasias, fraquezas e hábitos irritantes em você e em seu cônjuge. Você tenta perdoá-los e tolerá-los pela graça.

Mas eles têm uma maneira de dominar a relação. Pode até não ser verdade, mas parece que isso é tudo que é, esterco de vaca. Eu acho que a combinação de paciência e perdão leva à criação de uma pilha de compostagem. E aí você começa tirar o esterco com a pá. Vocês dois se olham e simplesmente admitem que há um monte de esterco. Mas você diz para o outro: Você sabe, há mais neste relacionamento do que só esterco. E estamos perdendo isso de vista porque continuamos dando atenção a esse esterco. Vamos jogá-lo todo na pilha de compostagem. Quando precisarmos, vamos lá cheirá-lo, nos sentir mal e lidar com isso da melhor maneira possível. E então, vamos nos afastar dessa pilha e botar nossos olhos no resto do campo. Vamos escolher alguns caminhos e colinas preferidas que sabemos que não estão cheias de esterco. E vamos ser gratos pela parte do campo que é doce.

Nossas mãos podem estar sujas. E nossas costas doem de fazer toda essa limpeza. Mas uma coisa nós sabemos: Não vamos montar nossa barraca na pilha de compostagem. Nós só vamos lá quando precisarmos. Este é o dom da graça que vamos dar um ao outro de novo e de novo e de novo, porque somos eleitos, santos e amados.

Fonte: Desejando Deus
Autor: John Piper

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